segunda-feira, 21 de junho de 2010

*RELATO DA MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COMO DOULA - QUASE PARTO DE ARIANY

No sábado, 05 de junho de 2010, às 20h35min recebi uma ligação de casa, era minha mãe avisando que Ariany havia dado entrada na casa de parto natural - CPN do Sofia Feldman. Naquele momento eu estava saindo da casa de uma amiga, a caminho da minha casa. Lembro que minha amiga, sua irmã e sua mãe conversavam muito, mas eu estava desconectada só conseguia pensar naquele momento e imaginava como seriam as horas seguintes, naquele carro a única pessoa que de certa forma me compreendia era o Luis Fernando, sobrinho de 1a3m da minha amiga. Ele segurava o meu dedo indicador e eu conseguia sentir um calor, uma energia que me acalantava. Ao subir as escadas do prédio onde moro, estava tomada por um misto de sentimentos (euforia, alegria, medo, insegurança), acho que era a adrenalina surtindo efeito. Assim que cheguei ao meu apartamento fui ao encontro da minha mãe para saber mais informações, ela apenas me confirmou que Ariany havia ligado me procurando para informar que acabara de dar entrada no Sofia Feldman. Então liguei para Helena, minha doula-backup-companheira-amiga, lembro que quando ela ficou de olhar e me ligar em seguida para dizer se iria ou não me acompanhar, eu senti um certo medo e vontade de desistir, sei lá, não me senti pronta para viver aquele momento sozinha. Mesmo assim, desliguei o telefone, chamei um táxi e peguei minha mochila. Logo em seguida Helena me ligou confirmando sua presença, o que confesso ter me acalmado. Entrei no táxi e a caminho da Maternidade meditava e pensava: “Tudo dará certo, você está pronta”, quando o nervosismo apertava eu resgatava a técnica de envelope do corpo que durante o curso Mariana dividiu conosco, e assim foi durante todo o percurso. Cheguei na CPN acredito que eram 21h30min, quando abri a porta encontrei Dhayaram, 6 anos, filho mais velho de Ariany e Raja, ele me abraçou e disse: “Vanessa a mamãe tá tendo contrações, vem!”, abracei Ariany que estava com uma feição serena e disse: “Que bom que você veio”, saudei Raja seu esposo e abracei Suraj, 4 anos, também filho do casal. As crianças estavam muito ansiosas, falando muito e querendo me mostrar tudo no quarto, inclusive a banheira que Dhayaram tanto queria entrar.

↓Dhayaram fazendo massagem na mamãe



Ariany e eu fomos para o corredor caminhar e conversar um pouco, ela me contou que quando foi encaminhada para a CPN estava com 7 centímetros de dilatação e que as contrações estavam vindo brandas e a cada 10 minutos. Sugeri um pouco de caminhada e banho quente de chuveiro. Na primeira contração que presenciei, Ariany se apoiou à mesa e fiz uma massagem, nesse momento Helena me ligava avisando que já estava próxima. A contração passou e Ariany e eu continuamos nossa caminhada. Logo depois Helena chegou e ficamos as 3 caminhando e passando pelas contrações juntas, Helena fazia massagens e eu respirava junto com Ariany. Durante toda a madrugada Ariany se revezava entre banheira, caminhada e bola; e eu e Helena entre lhe auxiliar e distrair as crianças que continuavam muito ansiosas.

↓Ariany revezando entre o uso da bola e da banheira nos momentos de contração.


Raja por diversas vezes se exaltava com os meninos e Ariany intermediava. Acredito que Helena, assim como eu, percebeu que teríamos que abrandar aquela situação. Após muito “passear” com os meninos eles se renderam ao sono. Agora poderíamos assistir Ariany de forma mais ativa. Caminhamos por um longo tempo com Ariany e mais ou menos 2 horas da manhã as contrações se ritmaram e passaram a acontecer de 8/8’’ e depois de 5/5’’, Ariany foi bastante ao banheiro e acreditei que a hora estava próxima. Mas apesar dos meninos estarem dormindo, Raja conversava muito sobre assuntos diversos com Ariany e conosco, o que acabou nos desfocando daquele momento. Por algumas vezes, eu me voltava para dentro, para aquele momento e percebia cada contração de Ariany, respirávamos juntas eu e ela, e quando passava olhávamos uma para outra, era um gesto que simbolizava “mais uma, que passamos juntas”, confesso que isso me afagava o ego, sentia em vários momentos uma alegria imensa por estar finalmente ali, fazendo o que tanto sonhava; e a cada olhar da Ariany eu sentia que estava junto a ela, conectada, solidária aquele momento. Infelizmente não fui capaz de intervir nas interferências/conversas de Raja, que acredito terem contribuído para a regressão das contrações de Ariany, claro que a intenção dele era a melhor possível, ele queria nos relaxar. Durante o resto da madrugada tentamos fracassadamente, Helena e eu, intensificar as contrações. Não era para ser naquele dia, me conforto nesse pensamento. Ariany já reclamava exaustão, como nenhuma de nossas ações foram capazes de engrenar o parto, achamos por bem que Ariany fosse se deitar e descansar um pouco, com a esperança que quando acordasse entraríamos em fase expulsiva. Para nosso desgosto, o descanso fez com que as contrações diminuíssem ainda mais. Ariany, conversou com a técnica de enfermagem que confirmou que o trabalho de parto-TP estava se estendendo. Ariany cogitou pela primeira vez uma possível ruptura de bolsa, o que em seu plano de parto-PP era totalmente descartado. Nesse momento fiquei extremamente chateada, senti que as coisas estavam tomando um caminho perigoso, lembrei da cascata de intervenções, mas me contive e apenas lembrei a ela das suas escolhas no PP. Ariany e Raja voltaram para o quarto, lembramos a eles que depois de rompida a bolsa o bebê teria um tempo para nascer. Raja sugeriu que conversássemos com a enfermeira sobre uma possível liberação para que Ariany e eles fossem para casa descansar e quando as contrações ficassem intensas, voltássemos para o hospital, já que eles residiam próximo ao Sofia. Helena e eu apoiamos a idéia e esclarecemos que essa como uma decisão do casal, deveria ser conversada com o hospital por eles. Joana, a enfermeira de plantão disse que por ela tudo bem, mas pediu que esperássemos a troca de plantão, para que a Sibylle, enfermeira responsável pelo plantão do dia examinasse Ariany e a liberasse também, já que provavelmente voltaríamos no plantão dela. Sibylle examinou Ariany e constatou que estava tudo bem com ela e com o bebê. Por volta das 8 horas da manhã fomos todos liberados, nos despedimos de Ariany, Raja e os meninos. Na volta para casa, Helena e eu conversávamos sobre a experiência até o momento, e sobre a possível volta à CPN.

*NASCIMENTO
Sundari, menina linda, nasceu em 7 de junho de 2010, as 2h35min na banheira da CPN do Sofia Feldman, pesando 3,235kg, medindo 49cm, com apgar 9. Infelizmente eu e Helena não estávamos presentes, mas estamos extremamente felizes pelo nascimento sereno e mágico de Sundari, ela nasceu em seu tempo, seu momento, sem interferências. Ariany teve uma hemorragia, desmaiou após a expulsão, recebeu 4 soros para re-hidratação, mas passa bem e está em casa com sua pequena flor desde as 18horas do dia 7.

*VISITA DA DOULA
Fui conhecer Sundari dia 21 de junho. É uma menina linda!!! Gordinha, rosada, sorridente e muito atenta a tudo. Mama que é uma beleza! Ariany também está muito bem, se recuperando da perda de sangue e com muito leite para sua pequena.

↓Momento de intimidade entre mãe e bebê



↓Sundari mamando muito



*ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
→Raja foi um pai extremamente participativo durante todo o processo. Fazia massagens, acariciava, passava segurança, tentava manter a ordem, conversava, lembrava Ariany de suas escolhas, entre outras coisas.
→Dhayaram e Suraj assim como crianças que são, ficaram muito ansiosos durante nossa estadia na CPN, mas demonstraram a todo tempo o carinho com a mãe e a irmãzinha que estava chegando.
→Durante o curso de doulas e meus estudos sobre pré-parto, parto e puerpério, sempre lia e ouvia: “deixe acontecer naturalmente, não interfira”. Acreditava que eu já tinha entendido o significado dessas palavras e que não seria difícil agir assim. Hoje, depois de ter passado por essa experiência, percebo o quão é difícil simplesmente não interferir. Não falo só de interferências de instrumentos médicos, mas da minha própria ansiedade para que o parto acontecesse e tudo desse certo.
→Recordando a madrugada do dia 06 de junho, vejo o quanto algumas ações minhas podem ter interferido nas reações de Ariany. Ariany teve acesso a muitas coisas que estudamos para ajudar no parto: alimentação, apoio do esposo e filhos, massagens, caminhadas, posições, ambientalização, carinho, acompanhamento de bons profissionais (enfermeira, técnica de enfermagem, doulas), fisiologicamente também estava pronta para o nascimento de sua filha; e mesmo assim algo travava o nascimento de sua pequenina.
→Essa experiência foi maravilhosa, principalmente porque me conheci ali, consegui mais tarde perceber o que realmente significa “deixar acontecer, não interferir”.
→Após conversar com Ariany, chegamos à conclusão que algumas ações, como andar, cansam muito a mãe e acabam atrapalhando o TP.
→A presença de duas doulas também acho arriscado, segundo o relato da própria Ariany, ela se sentia em alguns momentos pressionada a “dar conta do recado”, ela me contou que por várias vezes sentia vontade de parar, sentar, mas que quando olhava pra mim e Helena, lembrava que tinha que andar, fazer posições, induzir o nascimento. Mesmo que não falássemos e nem propuséssemos nada, ela se sentia super estimulada.
→Outra coisa muito importante que cheguei à conclusão é que não somos nós profissionais, familiares ou a mãe que fazem o parto, a verdadeira protagonista da história é a criança.
→A possibilidade de acompanhar Ariany em TP foi um presente incrível, me sinto mais empoderada e consciente das minhas limitações.

*AGRADECIMENTOS
Agradeço a Rebeca pelo convite para acompanhar Ariany, experiência inesquecível.
As doulas da associação Minas de Doulas, que me orientaram e apoiaram.
À Helena, minha amiga-companheira de aprendizado-doula backup, pelo apoio, carinho, ajuda no pré-parto, acolhimento e inúmeras conversas por telefone e internet.
Aos meus familiares e amigos por me aturarem falando copiosamente sobre a situação.
E é claro, meus agradecimentos sinceros à Ariany e Raja que me permitiram participar de um momento tão íntimo de sua família. Sem dúvidas vocês ficarão guardados em meu coração e memória, já fazem parte da minha história!

↓Dhayaram, Suraj, Ariany, Sundari e Raja



↓Sundari, super sorridente


↓Helena, amiga-doula backup-companheira







VANESSA AVELINE
DOULA, MULTIPLICADORA E GRADUANDA DE ENFERMAGEM



TP: TRABALHO DE PARTO
PP: PLANO DE PARTO
CPN: CASA DE PARTO NATURAL

2 comentários:

  1. Vanessa, adorei seu relato, e isso so me deixa mais ansiosa pra mim estreiar tb!
    q familia mais linda!

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  2. QUE BOM QUE GOSTOU. FOI UMA EXPERIÊNCIA INCRÍVEL!!! A ARIANY REALMENTE TEM UMA FAMÍLIA MARAVILHOSA, O AMOR E CARINHO É VISÍVEL! TENHO CERTEZA QUE VOCÊ TAMBÉM TERÁ UMA ESTRÉIA ENRIQUECEDORA, DÊ-SE TEMPO E TUDO VAI ACONTECER!

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