sexta-feira, 2 de julho de 2010
É inevitável não falar hoje do jogo Brasil X Holanda pelas quartas de final da Copa do Mundo. O sonho do Hexa vai ficar por pelo menos mais quatro anos. O Brasil que, na última semana principalmente, se uniu na frente das tv's para assistir aos jogos, hoje se despede triste e cabisbaixo. Li uma crônica do Fernando Moreira no jornal o Globo e achei por bem postá-la aqui. Fica o grito preso de "É CAMPEÃOOOOOOOO!", mas a vida segue....
"Crônica de um destempero emocional:
seleção brasileira perde os nervos e a Copa
O Brasil tinha um adversário de peso pela frente, com tradição e futebol de respeito. Mas a derrota da seleção por 2 a 1 para a Holanda não foi apenas uma questão esportiva, foi o fechamento de uma série de destemperos de uma equipe que mesmo nas vitórias se mostrou à beira de um ataque de nervos. E ele veio nesta sexta-feira. Uma pane sem defesa. O nervosismo se revelou tamanho que foi capaz de fazer ruir o que havia de mais sólido e equilibrado no Brasil: o sistema defensivo.
A imagem da tragédia que se aproximava em Port Elizabeth ficou estampada no rosto de Júlio César, que tentava armar uma barreira em uma falta na entrada da área, quando o Brasil já perdia por 2 a 1, no segundo tempo. Pálido, o arqueiro mal tinha forças para pedir a composição de quatro homens. Em determinado momento, ele fechou os olhos por longo segundo. Ao abrir, tudo estava lá, da mesma forma: um Brasil catatônico, refletindo o terror facial do melhor goleiro do mundo. Uma tela sombria de Van Gogh, com pálidos girassóis desalinhados pelo vento morno soprado por vuvuzelas em Port Elizabeth. Título: "Retumbante fim da Era Felipe Melo?".
Ao fim do jogo, Dunga afirmou, orgulhosamente, que, se os jornalistas pudessem ver o vestiário do Brasil, encontrariam uma equipe devastada, arrasada, sofrendo com o peso da eliminação. Não precisávamos esperar o último apito do árbitro para encontrar o Brasil devastado. Uma imagem que começou a se desenhar no repetitivo mau humor do técnico, no comportamento geralmente dócil de Kaká corrompido por um acesso de fúria que culminou com expulsão. Uma hora o limite seria ultrapassado e a seleção perderia o chão.
Voltemos à partida em Port Elizabeth e ao quadro tardio pintado por Dunga. A seleção ficou devastada ainda em campo, após o primeiro gol holandês, que saiu graças a um cruzamento comum de Sneijder e à combinação de falhas de Júlio César e Felipe Melo. Era apenas um gol de empate, aos 8 minutos do segundo tempo, de um grande clássico em quartas de final de uma Copa do Mundo. Mas, inexplicavelmente, a seleção pentacampeã perdeu o equilíbrio emocional de forma devastadora, quando ainda tinha todas as chances de voltar a comandar o placar. E, com os nervos à flor do gramado, a seleção perdeu a confiança, cometeu novos erros imperdoáveis, mostrou-se excessivamente nervosa e acabou nocauteada em pé diante de um adversário que não precisou se esforçar muito para chegar à vitória.
Quem se esforçou muito para deixar a Copa pela porta dos fundos foi Felipe Melo. Para os mais críticos, ele não se esforçou nada. O jogador mais contestado da seleção começou a partida dando a impressão de que levaria um 10 do mestre Dunga: um passe perfeito para Robinho colocar a bola na rede holandesa. O Brasil envolveu os europeus e só não ampliou o marcador porque desperdiçou algumas oportunidades preciosas. O autor do gol parecia ligado a 220 volts. O Brasil não dava espaços para a "Laranja".
No segundo tempo, o quadro muda radicalmente. Robinho cai para 22 volts. A Holanda acha o seu primeiro gol e o Brasil fica atordoado, catatônico, como se os deuses do futebol já tivessem decretado a derrocada brasileira. Observando a postura do time em campo, parecia algo irremediável. Velório de vivo... Mas era apenas um empate! Zumbis vestidos de azul sem saber aonde ir. E, desorientados, apenas assistiram ao pequeno Sneijder sozinho na pequena área cabecear para o gol de Júlio César, aos 22 minutos. Outra vez, Felipe Melo. O volante permitiu que o meia holandês desse dois passos para trás e concluísse com perfeição. Felipe Melo preferiu ficar "marcando" Júlio César. Talvez uma tentativa inconsciente de reeditar a parceria desastrada no primeiro gol inimigo.
O Brasil estava atrás no placar, mas nada estava perdido. Quantas vezes a seleção não se superou e deu a volta por cima? Esta sensação resistiu pouco. Aos 28 minutos, Felipe Melo fez falta em Robben. Na continuação do lance, o volante botinudo deu vida às profecias de antes da Copa: ele vai acabar expulso em um jogo decisivo e prejudicar o Brasil. Não deu outra. Um pisão violento e covarde em Robben. Cartão vermelho justíssimo. Destempero elevado à enésima potência.
Com um a menos em campo, o colapso brasileiro ganhou contornos mais dramáticos. Correria desordenada de uma equipe que parecia despreparada para encarar adversidades e reagir ao seus erros. No banco, um técnico esquálido, incapaz até de fazer todas as três substituições a que tinha direito! Ao fim da partida, o comandante do Titanic amarelo foi o primeiro a abandonar o barco."
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