Publicação: 03/12/2010 12:16 Atualização: 03/12/2010 20:03
Planejando cada etapa
Toda gestante pode ter um plano de parto, que é uma lista de desejos por escrito. No caso de um parto sem complicações, é perfeitamente possível que a equipe médica siga seu plano, que pode ser feito com o obstetra e deve ser levado, impresso, no dia do parto. “Os casais brasileiros estão percebendo cada vez mais que os médicos e profissionais da saúde bem-intencionados nem sempre têm respaldo científico que sustentem as práticas obstétricas comuns e que muitas dessas práticas são adotadas simplesmente por serem parte de uma tradição médico-hospitalar”, afirma Ana Cris Duarte, do site Amigas do Parto.
“O pai ou mesmo a mãe pode ter uma conversa prévia com o neonatologista, com o anestesista, com os enfermeiros. Explicar suas preferências. Mostrar o plano de parto para eles e combinar a possibilidade dele ser respeitado”, recomenda a psicóloga e doula Clarissa Khan. É indicado que seu plano de parto tenha indicações tanto para um trabalho de parto normal, quanto para uma cesariana.
O que pode constar em um plano de parto:
- O local onde você deseja parir: em casa, na casa de parto, no hospital?
- Quem serão seus acompanhantes.
- Desejos como liberdade de caminhar, uso da água no trabalho de parto, liberdade para ingestão de alimentos e bebidas, aparelho de som ligado no momento do parto, luz baixa.
- Infusão intravenosa apenas se houver indicação médica.
- Rompimento espontâneo da bolsa d’água.
- Clampeamento do cordão umbilical apenas depois que ele parar de pulsar, com o corte feito pelo pai.
- Bebê colocado imediatamente no colo da mãe (ou sobre a barriga ou nos seus braços).
- Bebê amamentado assim que possível.
-Tirar fotografias ou filmar o parto.
Pesquise, informe-se e decida!
Conheça importantes pesquisas que fortalecem a corrente do parto humanizado:
- A questão do clampeamento do cordão umbilical
O cordão umbilical é um elo entre mãe e filho de vital importância. É por ele que a placenta faz a troca gasosa com o feto e envia os nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Quando a criança nasce, o cordão umbilical, ainda ligado à placenta, continua enviando sangue oxigenado. Dando tempo para que os pulmões do bebê se adaptem às novas condições e realize os movimentos de inspiração e expiração sem pressa. De forma gradativa. Enquanto o cordão umbilical pulsa, ele ainda está fazendo a troca. Levando em consideração estudos que apontavam que o corte tardio do cordão umbilical, e não imediato, reduzia o risco de anemia em crianças (por aumentar a concentração de hemoglobina e ferro no sangue), a pesquisadora e pediatra Sônia Venâncio pesquisou, no ano de 2006, as consequências do corte imediato do cordão umbilical, praticado em grande parte dos partos e apoiado nos seguintes argumentos: ele preveniria a icterícia, a policitemia e a anemia materna.
Sônia analisou 109 casos de cortes imediatos e 115 casos de cortes tardios, investigando a relação do clampeamento do cordão umbilical com a diminuição dos estoques de ferro em bebês com até 6 meses de vida. Os resultados encontrados confirmaram os benefícios do corte tardio por, de fato, aumentar o estoque de ferro. E, desmitificando a antiga crença, não foram verificadas no estudo maior frequência de icterícia, policitemia ou complicações maternas decorrentes do clampeamento tardio do cordão umbilical. “Deve-se permite que a função pulmonar se estabeleça gradualmente. Para que o bebê possa expelir as secreções com tranquilidade e respirar de maneira mais fisiológica”, adverte o obstetra Thomas Gollop.
- Ultrassonografias
Um estudo da pesquisadora Maria do Carmo Leal apontou que muitos filhos de cesarianas eletivas (pré-marcadas) nascem antes do tempo ideal. O motivo seria o fato das ultrassonografias terem uma margem de erro que nem sempre é considerada. Muitas crianças acabam nascendo imaturas, com 35 a 36 semanas (pré termo tardias), quando os médicos achavam que ela tinha 38 semanas. “O bebê nasce com desconforto respiratório, angústia e, em vez de amadurecer no ventre materno, acaba indo para uma máquina incubadora. E ninguém explica para a mãe, que fica angustiada, o que realmente desencadeou a internação do recém-nascido. Isso é um problema sério. A natureza tem sua sabedoria. O trabalho de parto indica a maturidade da criança, inicia na hora certa”, alerta a médica Daphne Rattner.
Fique atento
No documento divulgado pela Organização Mundial de saúde, algumas práticas comuns na condução do parto normal são classificadas, com base em evidências científicas e em debates de profissionais. Separamos as mais populares:
1. Uso rotineiro de enema (lavagem intestinal):
O que diz a OMS: os enemas supostamente estimulam as contrações uterinas e o intestino vazio facilitaria a descida da cabeça do bebê pelo canal vaginal. Também evitaria contaminação. Entretanto, essa é uma prática incômoda que apresenta risco de lesão intestinal.
O que dizem os estudos: dois estudos (Rommey e Gordon, 1981, e Drayton e Rees, 1984) não detectaram efeitos sobre a duração do trabalho de parto ou sobre infecção neonatal ou infecção da incisão de episiotomia.
2. Uso rotineiro de tricotomia (raspagem dos pelos pubianos)
O que diz a OMS: a tricotomia é considerada desnecessária e somente deve ser realizada a pedido da mulher.
O que dizem os estudos: são de 1922 (Johnston e Sidall) e 1965 (Kantor) os estudos que derrubam a tese de que a tricotomia reduziria riscos de infecção e facilitaria a sutura. O uso rotineiro, pode, inclusive aumentar o risco de infecção pelos vírus HIV e da hepatite, tanto para o parteiro quanto para a parturiente.
3. Infusão intravenosa e suspensão da ingestão de líquidos e sólidos
O que diz a OMS: as opiniões sobre a necessidade de nutrição intravenosa durante o parto variam amplamente em todo o mundo. O trabalho de parto requer enorme quantidade de energia. Como não se pode prever sua duração, é preciso repor essas fontes de energia. A restrição severa da ingestão oral de alimentos pode levar à desidratação.
O que dizem os estudos: essa necessidade de energia é normalmente compensada por uma infusão intravenosa de glicose. Estudos que datam de 1980, 1981 e 1982 apontaram que o aumento da glicose acompanhava um aumento nos níveis maternos de insulina, o que pode levar a uma série de complicações, que podem ser evitadas com a simples oferta de líquidos e alimentos leves para a gestante ingerir.
4. Recomendação de que a gestante fique deitada
O que diz a OMS: ficar deitada durante o primeiro estágio do trabalho de parto afeta o fluxo sanguíneo uterino, podendo comprometer o estado fetal.
O que dizem os estudos: para publicações como Ambulation in labour e Upright posture and the efficiency of labor, a posição supina (deitada com a barriga para cima) também reduz a intensidade das contrações, interferindo no progresso do trabalho de parto. Ficar de pé está associado a uma maior intensidade e maior eficiência das contrações.
5. Administração de ociócitos e ruptura mecânica da bolsa d’água
O que diz a OMS: esse é um método de prevenção do trabalho de parto prolongado. Muitas vezes, essas ações são iniciadas de forma tão precoce, mesmo não apresentando nenhum motivo válido para tal.
O que dizem os estudos: um estudo controlado (O’Driscoll, 1973) verificou aumento considerável de desacelerações de batimentos cardíacos fetais após a ruptura precoce da bolsa. Quanto à infusão de ocitocina, não existem benefícios comprovados de seu uso. Sua infusão inibe a produção natural da ocitocina e pode deixar o trabalho de parto ainda mais doloroso.
6. Controle da dor por analgesia peridural
O que dia a OMS: a peridural fornece um alívio melhor e mais duradouro da dor que muitos outros métodos. Mas exige condições importantes: o trabalho de parto deve ocorrer em um hospital bem equipado e sobre a constante supervisão de um anestesista. Porém, com seu uso, há uma tendência para que o primeiro estágio do trabalho de parto seja mais longo.
O que dizem os estudos: um estudo americano recente apontou que o número de cesarianas aumentou quando a analgesia peridural foi usada durante o trabalho de parto.
7. Uso liberado da episiotomia
O que diz a OMS: a episiotomia é um corte cirúrgico feito na região do períneo. Ele visa facilitar ou acelerar a saída do bebê e evitar uma laceração de terceiro grau. Porém, uma vez que a incidência de laceração de segundo grau é de cerca de 0,4%, o diagnóstico perde seu significado. Não existem evidências de que seu uso rotineiro seja benéfico.
O que dizem os estudos: o uso liberal da episiotomia está associado a maiores taxas de traumatismo ao períneo. Com ou sem o uso do método, mulheres tiveram um grau comparável de dor perineal avaliada aos 10 dias e 3 meses após o parto.
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