Márcia Maria Cruz - Estado de Minas
Publicação: 17/10/2010
Uso de anestesia, quantidade do medicamento a ser administrada, parto sem cortes, contato imediato com a criança. As gestantes podem fazer uma série de escolhas em relação à forma como pretendem ter o filho, mas nem sempre elas são respeitadas. Pelo menos é do que se queixam muitas delas. Uma das decisões que atormentam uma gestante é se o parto será normal ou cesariana. Não é para menos. As futuras mães não querem colocar em risco a saúde do filho nem o próprio bem-estar. Mas, principalmente, quando se é mãe de primeira viagem, o parto é um universo a ser desvendado e, diante do incerto, os temores aumentam.
Para que as escolhas da mulher sejam garantidas, muitas delas fazem o plano de parto. Colocam por escrito a que querem e a que não querem ser submetidas. Cópias das intenções da futura mãe são distribuídas para o obstetra ou enfermeira-obstetra, que vai conduzir o parto, para o parceiro e para a doula. Isso porque, no momento que se intensificam as contrações, a mulher vai para um outro plano, “a partolândia”, nas palavras de muitas delas. “A sensação é que você está ali e, ao mesmo tempo, não está”, afirma a auxiliar de biblioteca Renata Pereira da Rocha Araujo.
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Durante a gestação, as doulas conversam sobre todo o procedimento do parto, informando a gestante, por exemplo, sobre as vantagens e desvantagens do uso de anestesia. “A analgesia tira a dor, mas vai retardar o trabalho de parto. O processo de adaptação do bebê também será mais difícil”, informa a doula Mariana Mesquita. Os procedimentos adotados pelos médicos durante o parto do primeiro filho, Gabriela, de 11 anos, traumatizaram Renata.
As lembranças fizeram com que ela adiasse a segunda gravidez. “Foi uma cesariana totalmente desnecessária, mas que era conveniente com a data e o horário da médica”, afirmou. Conforme lembra, o processo foi tão impessoal que o marido não pôde entrar na sala de parto e a única pessoa que conversou com ela foi o anestesista. “Quando cheguei, um pessoal de verde me pegou e me levou para o banheiro. Lá, me depilaram e depois fui largada na sala de anestesia. Sentia como se estivesse a deus-dará. “Meu marido queria assistir ao parto, mas havia uma série de restrições que o impossibilitaram. Deixaram claro para ele que se ele passasse mal o problema era dele. Ele só poderia ficar de longe, filmando, e não poderia nem pegar na minha mão”, recorda.
Depois da cesariana, ela teve que pedir à enfermeira para ver a filha, que, conforme ela narra, foi colocada em um elevador, semelhante àqueles usados em restaurante para descer as refeições da cozinha para o salão. “Colocam o bebê em um elevador de metal, parecido com os de self service, e ele sobe sozinho sabe-se lá para onde.” Em função da cirurgia, ficou 24 horas sem conseguir se sentar nem mesmo para amamentar a filha. Quando resolveu superar esses traumas e engravidar novamente, Renata buscou informações na organização não governamental Bem Nascer, onde começou a participar de rodas de discussão com outras mulheres.
RISCOS A escolha entre parto normal e cesariana é muito difícil para as mulheres. Foi o que ocorreu com a engenheira Ana Paula Venturini, de 38, que chegou a se consultar paralelamente com dois obstetras. Um deles defendia o parto normal e o outro a cesariana, embora dissesse que não era a favor. Ana, porém, estava decidida a fazer o parto normal, a não ser que houvesse riscos reais para ela e para o bebê.
Diante disso, a solução era se informar, o máximo possível, sobre gestação e parto. O caminho foi procurar as doulas, que atuam também como conselheiras. “Queria parto normal, mas nenhuma das minhas amigas mais próximas tinha tido parto normal. O médico chegou a dizer que isso era coisa de índio”, lembra. A partir do aconselhamento da doula Mariana de Mesquita, de 31, ela obteve mais informações para conversar com o médico sobre os procedimentos que iria adotar.
No dia do parto, como a dilatação ou a abertura da passagem para o bebê, ocorreu de uma forma muito rápida, Ana Paula recebeu anestesia, mas uma quantidade que permitisse que ela sentisse cada momento, como, por exemplo, a saída do bebê. “Queria ter parto normal, mas tinha medo por não saber o que é. Todo mundo fala só coisas ruins, mas é a melhor coisa que tem”, avalia. O aconselhamento da doula foi essencial para que ela passasse pela gestação e pelo parto com mais segurança.
Em geral, a dilatação tem que chegar a 10 centímetros para que o bebê tenha passagem. O movimento de contração é um sintoma de adaptação do corpo da mulher. O colo do útero, que fica grosso durante a gravidez, conforme vai se abrindo afina.
ORIGINAL EM: http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2010/10/17/interna_nacional,186220/com-o-apoio-das-doulas-futuras-maes-fazem-o-plano-de-parto.shtml
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